Especialista aponta prós e contras da Inteligência Artificial na publicidade

Alessandra Bottini destaca implementação da tecnologia como um divisor de águas para o setor, mas também aponta desafios

O boom da inteligência artificial está impactando diversos setores das atividades humanas. Uma das áreas mais afetadas pelo avanço da tecnologia é a indústria da publicidade. Oferecendo cada vez mais oportunidades para as marcas e agências, a ferramenta promete uma nova era em que as campanhas serão amplamente mais eficazes e personalizadas aos interesses do público. Até por isso, de acordo com um estudo da Accenture, 80% dos CMOs pretendem ampliar os investimentos na IA em 2024. 

Diante dessa evidente transformação da área, Alessandra Bottini, CEO da 270B no Brasil alerta que o processo não está isento de obstáculos. De acordo com a especialista, apesar dos benefícios atrelados ao uso da ferramenta, é fundamental que os profissionais estejam cientes dos desafios e armadilhas potenciais associados ao seu uso, para garantir que seja implementada de forma ética e responsável.

“A aplicação da IA no setor não é mais uma questão de se, mas uma questão de quando. Por mais que ela ainda não seja obrigatória, já é uma tecnologia que ajuda e é quase indispensável. Entretanto, é preciso ter consciência e entender rapidamente onde estão os seus pontos fortes e de atenção”, reflete a especialista. 

Para entender melhor esse cenário, a CEO elenca os prós e contras do uso da IA na publicidade:

Pontos positivos:

1. Segmentação de público-alvo

A Inteligência Artificial permite uma segmentação de audiência altamente precisa, o que significa que os anúncios podem ser direcionados para os consumidores certos, no momento adequado, ampliando significativamente a eficácia das campanhas. 

2. Personalização

Indo pelo mesmo caminho, a tecnologia permite ainda criar anúncios altamente personalizados, adaptados às preferências individuais de cada usuário. “Isso possibilita que a marca melhore o engajamento e as taxas de conversão de suas ações”, afirma a CEO da 270B. 

3. Otimização em tempo real

Os algoritmos altamente complexos processados pela IA abrem caminho para que as campanhas sejam ajustadas em tempo real, avaliando métricas para maximizar o retorno sobre o investimento, como lances, orçamentos e segmentação. 

4. Eficiência operacional 

A automação de processos proporcionada pela IA é o benefício mais evidente. Por meio deste recurso, os profissionais do setor reduzem o tempo e os recursos necessários não só para o gerenciamento das campanhas, mas até mesmo no momento de concepção dos projetos.  

Apesar da possibilidade de gerar insights criativos contribuir nessa etapa criativa, a especialista alerta que a máquina ainda está longe de estar preparada para substituir o humano. “Ainda existem elementos essencialmente humanos, como contexto e sensibilidade cultural, empatia, conexão emocional e até mesmo intuição, que fazem grande diferença na entrega criativa das agências e não são substituídas por IA”, opina.

Pontos de atenção:

1. Privacidade e segurança

Por envolver constantemente o uso de dados pessoais no momento de validação de estratégias, o uso da tecnologia precisa estar acompanhado de uma enorme cautela quanto à privacidade e segurança das informações. “As marcas e agências precisam assegurar que estejam em conformidade com regulamentações locais e que estão tomando as medidas necessárias para proteger os dados dos usuários”, detalha Alessandra.

2. Viés algorítmico

Por mais elaborados e desenvolvidos que sejam, algoritmos de IA podem ser influenciados pelo viés humano, resultando em decisões injustas ou discriminatórias. Esse é um perigo de alto risco, tendo em vista que pode prejudicar a reputação da marca e causar danos profundos à confiança da marca com os clientes.

3. Perda de autenticidade 

Se por um lado a ferramenta contribui com a personalização do trabalho, é preciso ressaltar que a segmentação ao extremo gera o risco de perda da autenticidade e conexão emocional com o público-alvo. “É fundamental equilibrar o uso das soluções com uma abordagem genuína e transparente, evitando assim que as ações pareçam intrusivas ou manipuladoras”, complementa. 

Diretrizes para uma implementação ética

Para navegar por esses desafios, Alessandra recomenda ainda uma série de práticas obrigatórias e responsáveis por parte dos profissionais. Dentro os pontos destacados, a transparência no uso da IA e a adoção de algoritmos éticos e imparciais são vistos como fundamentais para a construção de materiais de confiança. “As empresas devem também assegurar a conformidade com regulamentações de privacidade, como a LGPD, no caso Brasil, além de investir na qualidade e representatividade dos dados para treinar as suas soluções de forma verdadeiramente abrangente”, conclui.

Arte: Alexandra Koch/Pixabay