A gestão eficiente de startups (empresas inovadoras, com modelo de negócios escalável e voltadas à solução de demandas específicas) engloba vários aspectos aos quais os empreendedores devem se atentar. No âmbito financeiro, a preparação adequada se transforma em um divisor de águas e representa uma segurança a mais para os empreendedores no início da jornada.
Dados do relatório LatAm Tech Report 2023, que destaca análises sobre os investimentos de fundos de venture capital na América Latina, mostram que 88,9% dos entrevistados estão confiantes no futuro do setor de startups para 2024. Ainda segundo a publicação, 40% dos fundadores de startups consultados apontaram a captação de recursos como o principal desafio para os próximos meses.
Nesse cenário, o planejamento financeiro ocupa um espaço destacado, uma vez que trabalha conceitos como orçamento e fluxo de caixa, cuja execução pode levar ao sucesso ou encerramento da empresa.
Também vale ressaltar que as startups, em especial, têm o desafio de passar pelos estágios embrionários do negócio e, em muitos casos, buscar financiamento (por crowdfunding, investidores-anjo ou crédito) para crescer e expandir a atuação.
Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgado no ano passado – a partir das bases de dados da Receita Federal e de pesquisas de campo entre 2018 e 2021 –, aponta os principais aspectos para manutenção e crescimento das companhias, entre os quais:
- Planejamento sólido do negócio;
- Preparo pessoal adequado
- Gestão eficiente do empreendimento;
- Análise correta das oportunidades no mercado.
De acordo com o Sebrae, a indústria extrativa brasileira conta com o maior índice de sobrevivência dos negócios (mais de 85% das companhias continuam em atividade depois de cinco anos). Por outro lado, o comércio apresenta a maior taxa de mortalidade entre as áreas de atuação das empresas (30,2% encerram as atividades em cinco anos).
Os maiores índices de sucesso dos empreendimentos foram apresentados no Amazonas e Piauí (78%), seguidos por Amapá, Maranhão e Rio de Janeiro (77%). O estado com a maior taxa de encerramento de operações é Minas Gerais (30%), ainda segundo a pesquisa do Sebrae. Distrito Federal, Rondônia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina chegaram ao patamar de 29%.
Nos dois primeiros meses de 2024, o Brasil registrou aumento de 9,04% na abertura de companhias em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados constam no painel Mapa de Empresas, ferramenta de acompanhamento disponibilizada pelo governo federal.
Na soma de janeiro e fevereiro deste ano, o levantamento mostra 721.184 novos empreendimentos formalizados – contra 661.371 nos respectivos meses de 2023. Os números trazem à tona questões sobre os fatores determinantes para o sucesso das companhias, principalmente das startups.
Planejamento financeiro na prática
Um dos pilares para a operação eficiente e evitar o fechamento da companhia, o planejamento financeiro tem destaque na importância para o empreendedor, pois auxilia na organização do orçamento, prevê o cenário financeiro e identifica possíveis desperdícios, além de oferecer suporte na elaboração de planos de ação.
Segundo Adriano Fialho, cofundador e CTO da fintech Agilize Contabilidade Online, para garantir a saúde financeira de uma empresa em estágio inicial, o empreendedor deve fazer o básico, antes de tudo. Primeiro, é crucial entender bem como a startup ganha dinheiro, quem são os clientes e quais os diferenciais competitivos.
“Depois, o empresário precisa fazer projeções financeiras para os próximos anos, sempre considerando tanto cenários otimistas quanto desafiadores, para entender quais os limites do negócio”, explica o executivo.
“Um controle rigoroso do fluxo de caixa é essencial. Isso significa saber exatamente quanto dinheiro está entrando e saindo, e planejar para ter sempre recursos suficientes para as despesas”, acrescenta.
Para Adriano, quando uma startup é criada, há o olhar muito voltado para a tecnologia, enquanto o fluxo de caixa geralmente fica negligenciado. “Manter os custos sob controle é outro aspecto importante. O empreendedor deve gastar de forma inteligente, investindo no necessário para o crescimento da empresa, evitando desperdícios”, afirma Adriano Fialho.
A organização anterior à criação da companhia também representa um ponto fundamental na visão de Marlon Freitas, CMO da Agilize. “É essencial que o empresário compreenda, com profundidade, como o modelo de negócio funciona porque isso mostrará se o negócio seguirá adiante. Como o empreendimento monetiza, gera e cria valor para os clientes? Essa compreensão é a base para estabelecer um bom plano financeiro”, pondera.
O passo seguinte, de acordo com o CMO, consiste na previsão do fluxo de caixa, a depender do modelo de negócio. “O pilar financeiro de uma startup é tão relevante que vale a pena ter um sócio que conheça o tema, de fato. Muitas companhias quebram justamente no que se refere às questões financeiras”, diz Marlon Freitas.
Como lidar com as incertezas no negócio
Além disso, a construção de estratégias em relação aos cenários de incerteza funciona como uma proteção para o empreendedor. Marlon Freitas destaca que o perfil conservador na administração financeira da empresa costuma antecipar possíveis situações problemáticas.
“Na verdade, empreender é lidar com os cenários de incertezas o tempo inteiro. Quanto mais capacidade de processar dados e tomar decisões assertivas, as chances de o empreendimento sobreviver, ganhar musculatura e crescer são maiores”, pontua o executivo.
Já Adriano compara a gestão financeira de uma startup a planejar uma viagem, com atenção a três tópicos principais: fluxo de caixa, orçamento e estratégias. “A previsão de fluxo de caixa é análoga a verificar a previsão do tempo e as condições da estrada antes de sair. Ela diz quando haverá dinheiro entrando e saindo”, introduz.
“O orçamento é o plano de viagem, que mostra como usar o dinheiro da companhia para chegar aos objetivos. Por fim, as estratégias são como levar um kit de emergência na viagem, pois o mundo dos negócios às vezes traz surpresas e é bom ter um plano para situações inesperadas”, avalia o executivo.
Foto: Fauxels/Pexels
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